Sunday, December 27, 2015

Aquela noite...


A timidez de olhos que entrecortaram-se por toda uma noite, em sorrisos de admiração e devaneios de criação.
Cada qual com seu mundo, sombrio ou fantástico, em declamações sonhadoras, sorríamos alegres a exclamar nossas crias; com tamanho deslumbre a brilhar veemente no olhar...
Da queda de Lucifer ao Sonho possuidor das areias, partimos em nossa ode literária...
Caminhávamos enquanto enaltecíamos nossos ídolos, num turbilhão de conhecimento maravilhoso! E a cada passo tu deixavas em mim a sensação de familiaridade a estranhar... de “uma coisa muito esquecida”... que alguns intitulam “cativar”.
Como guias de nosso furor, de empolgante eloquência; citei-te meu mentor:
“Que escala elevados montes e ri-se de todas as tragédias da cena e da vida.”
E tu em teu Monólogo sombrio, me responderia:
“Como quem para o próprio túmulo olha, e amarguradamente se antolha à luz de americano plenilúnio.”

Olhei-te com uma graça, ainda sem saber do que se tratava,
Mas, cada vez mais, teu sorriso tímido em segredo me encantava.
O vento, a chuva , o tempo, testemunhas de nossa saga, sob um céu vazio e cinza , numa funesta porém acolhedora aura de solidão; sentíamo-nos em casa.
Lágrimas gélidas nos banhavam, e em versos materializados, como que a paixão com que nossa voz era entoada junto a chuva, lamento poético dos céus, fizesse como que caminhássemos com nossos poetas entoados.
Tu invocaste os Portões do Inferno, eu invoquei o Vento do Oeste...

Tu graciosamente entoou:
“No existir, ser nenhum por mim se avança
Não sendo eterno, e eu eternal perduro;
Deixai, ó vós, que entrais, toda a esperança”
Eu graciosamente entoei:
“E, pela força encantatória desses versos,
Espalha a minha voz por entre a humanidade,
Como cinzas e chispas de lareira acesa!
Para a terra que dorme, sê, com estes lábios,
Oh! A trombeta de uma profecia! Vento,”
Ríamos e, assim, vangloriávamos a vida. Caminhando sob a chuva, com Dante e Shelley.

Dividimos aquela sem a qual a vida seria um erro;
Nós e eles, a ouvir o eco de uma maré distante, então eu lhe pego pela mão e a levo pela terra... e sob o Eclipse final, tudo o que você toca, tudo o que você vê, tudo o que é agora e tudo o que já se foi, a nossa frente... e ninguém nos chama à seguir, ninguém nos força a baixar nossos olhares, ninguém fala e ninguém tenta... ninguém voa ao redor do sol...

Deitando-me ao teu lado, divagamos angústias, ideologias, tristezas...
Abençoados pela solitude!
Seu conhecimento e eloquência em cada apelo apaixonado, que vestia com veludo purpúreo cada palavra que vinha de tua boca, me atingia e fascinava...
Cada frase, cada sorriso, cada desvio daquele lindo olhar tímido,
Que eu admirava em cada contorno de seu delicado brilho.

Fechamos nossos olhos, então, e uma dúvida crucial pairava sobre mim, numa incerta agonia, percebi.
Não fazia ideia, não havia certeza; mas ao despertar entendi...
Ao me ver admirando teu semblante, sorrindo como se estivesses sorrindo para mim.
Mas foi apenas quando vislumbrei teus olhos a abrir, exalando a serenidade e delicadeza, mesma de outrora, tive enfim a certeza.
E precisava enfim lhe dizer...
Ah, mas não pude...
Mas sim, poderei, quando lhe ver... poder, finalmente, lhe dizer...


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To my Juliet.

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