Thursday, February 10, 2011

iwndiwn-21

Conversando com a lua percebi que seus ouvidos me ignoravam apesar do fascínio misturado com desdém de seu olhar, que na verdade era uma ilusão, como todo o resto. Na verdade, como eu queria imaginar, como eu queria acreditar, mas mesmo assim, uma ilusão. Uma pulseira feita daqueles pontinhos brilhantes no céu que eu daria aquele amor quando acordássemos. Ilusão. Não passa de uma fita e que terei que enfrentar o nome de um planeta definido pela sua lenda.

Converse com os cães, e eles lhe responderão com olhares, coisas que ninguém responderá por você e para você. Com a formiga caminhando, aprendi muito, observando que um simples caminhar pode não ser tão simples. Ilusão. Nada é o que é, e sim o que você imaginar. Ilusões são frutos da sua mente, assim como a realidade; a contradição que move a vida, ou o que mentalizamos que é vida. Vida da planta que brota do chão, pelo sangue derramado pelo clarão de aço; uma vida nasce, duas se esvaem.

Vida? Sobrevivência, talvez não, talvez óbvio, talvez; é apenas o que podemos achar, pensar ou tentar. Sua mente, no que ela está pensando? Contradição, realidade, superioridade ou indiferença? Pouco sabe-se como desvendar o segredo daqueles jardins infinitos com portões dourados, muito menos como chegar até eles. A moral desacredita, o real desaprova, a ilusão tem a reposta.

Sinta o vento quente e o desgosto. Sinta a brisa fresca e a vontade de sorrir. Afinal, dormimos para poder sonhar ou acordamos para poder sonhar? A realidade não é realidade, e sim o que você mentaliza que é realidade. A ilusão não é ilusão, e sim o que você mentaliza que é ilusão.

iwndiwn-20

Tanto faz, a árvore sempre cai, mas o que quero é derruba-la e colher as frutas, mesmo que poucas, mesmo que impensável, quero derruba-la. Sinceramente não sei o que vai acontecer quando ela cair, mas eu só quero seus frutos, nada mais; mesmo que sem planos para depois da queda, os frutos satisfarão o momento. Guarde-os para depois, a consciência grita, o desejo tapa-me os ouvidos. Tudo soa como aquela canção, tudo cheira como aquele perfume; na tinta, a dor, a vida.

Explode numa onda sonora o desespero, afogado pela futilidade alheia, apenas o momento que eles acolhem; prepare-se para mudar seus sonhos, pode ser útil. Os céus mudos, o solo realista, enquanto o vento o ilude, e não pensar é a saída; uma máquina, apenas fazendo, apesar de ainda com coração, por ele apenas, apenas fazendo. Realize, planeje, faça!

O papel é inútil, mas ele é seu guia; renegue ele e você renega o mundo. Mas e quando o papel lhe renega? O impossível e o improvável tornam-se seus vizinhos. A linha tênue entre realismo e pessimismo perseguem a esperança. As palavras e promessas me angustiam, onde está o caminho para isso? Sonhos paralelos, desejos ambíguos, sonhos pela metade, desejos tocáveis. E só o tempo à de me acompanhar, meu senhor autoritário, me ensinando da pior maneira que só ele possui a verdade, o caminho.

iwndiwn-19

Ligue a lanterna e aponte para onde há grama e frio, a brisa desse inverno seca o orvalho. A parede se abre numa janela, o fim pode ser visto nela, ou uma janela pode ser vista no fim; as palavras são sugadas para dentro da janela, surgindo de todas as arestas. Cada palavra torna-se seu significado instantaneamente e um caos de ruídos e aparente aleatoriedade sugadas para a janela, de coisas a sentimentos, tudo materializado; neste momento a palavra chão surge e este sede também atraído pela janela.

Bocas em chamas clamando por suas cabeças caladas sendo sugadas pela janela; com seus pés você as cala e elas não mordem, mas o receio o faz saltar como um índio dançando e assim uma chuva cai, parte dela afogando as bocas e a outra caindo pela janela. Até que se resolve seguir a chuva até a janela, o que há lá? à sua frente um forte vento que o faz lembrar aquele que seca o orvalho, interminável e gélido; ao estender a mão atravessando a janela sente-se algo segurando-a mas de leve. Quando recolhe-se a mão vê-se um colar com pingente nela, e as memórias urram fazendo com que todo o alvoroço das palavras atraídas peça janela termine e tudo cai instantaneamente ao normal como se nada tivesse ocorrido.

Olhando à volta tudo parece antigo e rústico, espanta-se que até mesmo as mãos e a face estão enrugadas, e o colar ainda ali. Interessante que uma foto surge ao chão, embaixo da janela; de longe não há certeza mas parece lembrar uma mulher cujo olhar profundo chama a atenção. Porém ao pega-la, se esfarela em pó antes de se averiguar quem era. Nota-se que as mãos e a face voltam ao normal ao tocar a foto. Da janela agora sopra uma leve brisa, ainda gélida, mas dessa vez doce; como as lembranças agora a lhe abraçar num aconchegante aperto o qual você retribui.

Um abraço solitário para qualquer um, mas para seus olhos graças às memórias e emoções, pode-se sentir aquela mão que lhe entregou o colar, aquele olhar da foto, e aquele beijo que só os urros mais ocultos da memória permitiram ecoar. Em um único suspiro, inúmeros desejos e emoções são menifestados; saindo da casa a porta da para um vazio espacial e que ao primeiro passo, o engole de forma voraz.

Neste vazio as únicas coisas a lhe acompanhar são o colar, que parece ser o único ponto de luz e esperança nesta imensa escuridão, e pessoas e coisas a segui-lo como que por uma corrente invisível que aparentam afugentar a solidão; mas que na verdade não passam de lembranças materializadas à flutuar juntamente com você neste vazio, que em alguns livros pode ser lido como “saudade”.

iwndiwn-18

Caminhando com os olhos entreabertos por causa do sol, piscando inúmeras vezes. Em um desses piscares tudo fica branco num único clarão ao longe que o derruba ao chão. Segundos depois gritos, ambulâncias, correria e algo molhado descendo pela face; tudo apaga em um clarão incessante.

Ao lado da bicicleta uma criança observa as outras, ela não quer andar, mas sim a alegria de compartilhar um sorriso; mas a realidade é que aquela rua não as pertence mais, nem a pureza mental é poupada. Ao abrir a pia, gritos em forma líquida que atormentam qualquer um que queira saber, mas ninguem nunca o quer; ecoarão pelo ralo com tudo aquilo de bom que havia na rua quando a criança queria andar. Ecos; é tudo aquilo que você pode ouvir.

Um telefone sem fio cruel e realista, mas onde o realismo confunde-se com pessimismo, anda-se sobre a cabeça da pureza; assim nenhuma criança terá a alegria de um sorriso compartilhado. Uma taça de leite afoga sua consciência, e no vidro refletem-se faces distorcidas porém mudas. Acolha-se na sua própria insignificância em posição fetal.

iwndiwn-17

O cabelo não é mais vasto, aquele menino deve ter entendido, quando ele olha para o futuro nota-se a curiosidade nas pontes feitas por ele; aquelas que explicam muito, mas que se desconhecem.

Uma insônia repentina, lençóis no chão, uma dama no sofá, a TV ligada; ela parece inútil. Ao desliga-la toda a insônia se esvai numa estranha vontade de dormir novamente, mas não antes de um copo d’agua. A água se esvai como o sono num gole e parece funcionar como um sonífero, pois o sono é instantâneo ao se deitar. Silêncio absoluto, gotas caindo na pia soam como marteladas.

Uma sirene soa, mas não explosiva e sim de forma crescente e contínua; os olhos abrem despertos sem saber oque acontecia, se levanta olhando ao redor. A dama não está lá e não há lençois no chão, apenas a mesma TV, desligada. O cômodo está com cortinas e paredes vinho e um tapete vermelho, não é o mesmo cômodo; e a sirene não para de tocar. Abre-se a porta e um corredor mostra-se, longo, meio escuro, com algumas portas, não se sabe onde está nem o porque de se estar ali; e o corredor é o único caminho.

3 passos pelo corredor e repentinamente se olha pra trás, um instantâneo calafrio surge pois há uma parede com um quadro onde havia a porta de onde se veio. As luzes piscam e mais alguns passos relutantes e uma das portas se abre e o coração se acelera num susto contínuo, um bode sai dela, e com seus chifres majestosos vira o olhar na sua direção, fixo e sem pupilas. A boca do mesmo se abre inúmeras vezes no que parece algo sendo dito e ele caminha em sua direção; e à medida do caminha do bode as palavras tornam-se contínuas e isso faz com que tudo se torne turvo e o corredor vibre junto com a visão em intervalos de segundos blackouts de milisegundos.

Desespero e uma agonia gélida, e a tontura causada por todo esse ambiente aterrador que acaba com toda a noção do real, o faz tombar de joelhos e cair deitado em seguida… paralisado, coração pulsando incessantemente, olhar amedrontado. “O que está acontecendo? Nada está acontecendo.” Este pensamento grita inúmeras vezes em sua mente, a única coisa a ser feita é implorar pra que este suposto pesadelo não seja real.

O bode passa direto pelo corpo tombado e para diante do quadro encarando-o, era para ele o tempo todo que o bode olhava. Não se consegue virar a cabeça à tempo de ver oque tinha no quadro; apenas à tempo de ver o bode pulando para dentro do quadro e uma explosão de sangue espalhando-se por toda a parede e parte do corredor. Olha-se a parede estático vendo o sangue escorrer e dando lugar à uma porta com uma pintura desfigurada meio rabiscada de um homem com cabeça de bode segurando uma lança em uma mão e fazendo um gesto com a outra levantada.

Os sentidos se realinham e consegue-se levantar, curioso e espantado e ao mesmo tempo aliviado de tudo estar aparentemente normal agora; a sirene não toca mais. Abre-se a porta com certa repulsa por causa do sangue, mas o desejo agoniante de alguma coisa que pudesse explicar os absurdos surreais que aconteceram era maior. A porta leva à rua, está claro porém nublado com uma forte neblina, uma brisa levemente fria o atinge. Dá-se alguns passos na intenção de se ver de que casa se saiu e ao virar-se ouve-se ao longe um sino badalar 3 vezes, e a sirene inicia seu toque novamente, crescente e contínuo. Tudo torna-se turvo novamente e a visão começa a escurecer à volta, mas a tontura e o giro contínuo da rua parecem tão aconchegantes dessa vez que os olhos apenas se fecham parecendo-se deitar numa nuvem de plumas.

Os olhos abrem despertos; uma insônia repentina, lençóis no chão, uma dama no sofá, a TV ligada.