Saturday, January 18, 2014

Escravo do Tempo

Naqueles instantes mais aleatórios, onde certas intrigas de seu cérebro o fazem mergulhar tão profundamente em si mesmo, de forma que parece que tudo o que você enxerga é o que quer ver e imaginar. Neste patamar de entrega à questões, é onde ocorrem as epifanias, de significância diretamente proporcional ao nível do questionamento levantado e ao nível de entrega que proporciona-se à si. À não ser que se queira que outros lhe deem respostas, o Eu é a chave para o Tudo; o saltar definitivo do autoconhecimento, talvez o conhecimento mais importante que se deve alcançar... saber quem és para se tornar o que és.
Neste desabafo de exclamações, no qual o som de Beethoven mesclado à chuva caindo de leve pela janela de um ônibus propiciou o meio e aura para uma epifania. Que substituiu uma angústia por um questionamento, e deste surgiu a conclusão da causa, mas não necessariamente um meio de excluí-la; mas saber o que se enfrenta, saber o que há de errado é o primeiro passo para extinguir seja lá o que se quer. Esta angústia chama-se Tempo.
Tempo para tudo, tempo de vida, tempo do porvir, tempo do que passou, tempo atual, quanto tempo tenho até... À um nível de paranoia, esta obsessão pelo tempo e como eu lido com ele me corrói, mas ao mesmo tempo não consigo tê-lo como mal, na verdade, inclusive, acho que não conseguiria viver sem esse aspecto organizacional. Ter um controle sobre todo o tempo do meu dia, da minha semana, do meu mês, com o intuito de otimizá-lo ao máximo... perder tempo é algo inaceitável, imperdoável. Achei que de alguma maneira isso fosse me ajudar à viver melhor, ao máximo em cada instante, mas o excesso de cobrança só tornou a agonia maior, agonia de não conseguir fazer tudo o que planejara pro meu tempo, agonia de não poder controlar de forma mais organizada todos esses aspectos; me agonia quando algo não segue um padrão, mas ainda quando são aspectos que afetam minha vida e como eu interajo com ela... cheguei à conclusão: sou um escravo do tempo.
À ele me subjugo, por ele me guio, por ele vivo...
Estes pensamentos surgiram pela ânsia em saber o que estava de errado, o que me deixava com uma sensação estranha em relação ao que eu estava fazendo, se estava perdendo tempo... minha paranoia cotidiana imperdoável; vítima. E o excesso de cobrança, de obrigação que meu próprio Eu impõe à mim mesmo, inconscientemente, sem controle ou querer, simplesmente é assim, só me banhava em mais agonia do tipo “Afinal, o que você quer, de verdade? O que faz aqui, o que quer fazer lá...? Não perca tempo! Tempo passa.”. No final das contas, o excesso de cobrança não é um defeito, é a certeza de que estarei sempre fazendo meu melhor.
O problema é sempre a cobrança em relação ao tempo... se não o utilizo, ou acho que não o utilizei, me sinto péssimo. E basta um dia “mal utilizado” pra isso... passarem horas e eu não ter lido ou estudado, escrito algo ou treinando.
Bem... chega de exclamações, o importante é o que fazer quanto à isso: me libertar das rédeas do tempo.
Sem horas ou horários pra ler ou escrever, estudar e afins; não permitir-se ser um ciborgue programado para levantar às 6:00h, ir treinar às 7:00h, trabalho às 10:00 e afins. Manter uma responsabilidade com horários obrigatórios é plausível e necessário, mas autoflagelar-se cumprindo um cronograma bizarro que se você não cumpre, algo que você mesmo criou, se sente culpado e tendo seu tempo "desperdiçado"... é muita paranoia pra pouca idade que tenho.
Parece-me que estes questionamentos de vida serão companheiros eternos. Sempre é bom rever e reavaliar o que você está fazendo, pensando e principalmente querendo, pois este último guiará todos os outros. Não sabendo-o (e acho que todos em algum momento da vida se deparam com isto), entrarão num turbilhão de indecisão e desespero, se houver um mínimo resquício de vontade de fazer algo digno da vida, que às vezes só o tempo ou uma longa reflexão podem sanar, ou simplesmente deixar-se decidir por terceiros; sabendo-o, e tendo um pouco de coragem em segui-lo sem pudor, é a diferença entre viver de verdade e simplesmente estar aqui de passagem.



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