Ligue a lanterna e aponte para onde há grama e frio, a brisa desse inverno seca o orvalho. A parede se abre numa janela, o fim pode ser visto nela, ou uma janela pode ser vista no fim; as palavras são sugadas para dentro da janela, surgindo de todas as arestas. Cada palavra torna-se seu significado instantaneamente e um caos de ruídos e aparente aleatoriedade sugadas para a janela, de coisas a sentimentos, tudo materializado; neste momento a palavra chão surge e este sede também atraído pela janela.
Bocas em chamas clamando por suas cabeças caladas sendo sugadas pela janela; com seus pés você as cala e elas não mordem, mas o receio o faz saltar como um índio dançando e assim uma chuva cai, parte dela afogando as bocas e a outra caindo pela janela. Até que se resolve seguir a chuva até a janela, o que há lá? à sua frente um forte vento que o faz lembrar aquele que seca o orvalho, interminável e gélido; ao estender a mão atravessando a janela sente-se algo segurando-a mas de leve. Quando recolhe-se a mão vê-se um colar com pingente nela, e as memórias urram fazendo com que todo o alvoroço das palavras atraídas peça janela termine e tudo cai instantaneamente ao normal como se nada tivesse ocorrido.
Olhando à volta tudo parece antigo e rústico, espanta-se que até mesmo as mãos e a face estão enrugadas, e o colar ainda ali. Interessante que uma foto surge ao chão, embaixo da janela; de longe não há certeza mas parece lembrar uma mulher cujo olhar profundo chama a atenção. Porém ao pega-la, se esfarela em pó antes de se averiguar quem era. Nota-se que as mãos e a face voltam ao normal ao tocar a foto. Da janela agora sopra uma leve brisa, ainda gélida, mas dessa vez doce; como as lembranças agora a lhe abraçar num aconchegante aperto o qual você retribui.
Um abraço solitário para qualquer um, mas para seus olhos graças às memórias e emoções, pode-se sentir aquela mão que lhe entregou o colar, aquele olhar da foto, e aquele beijo que só os urros mais ocultos da memória permitiram ecoar. Em um único suspiro, inúmeros desejos e emoções são menifestados; saindo da casa a porta da para um vazio espacial e que ao primeiro passo, o engole de forma voraz.
Neste vazio as únicas coisas a lhe acompanhar são o colar, que parece ser o único ponto de luz e esperança nesta imensa escuridão, e pessoas e coisas a segui-lo como que por uma corrente invisível que aparentam afugentar a solidão; mas que na verdade não passam de lembranças materializadas à flutuar juntamente com você neste vazio, que em alguns livros pode ser lido como “saudade”.
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