Thursday, February 27, 2014

Excelência: O decreto do Eu

Excelência, maldição nomeada. Caminho para a auto iluminação como para a auto destruição. Sucumbe à própria ponte engendrada, entre um dia e outro, cai junto dela, com ela. Desesperado, grita em cacofonias e rabiscos o que o Eu não suporta em sua caixa do ser.
O líquido viscoso corre garganta a baixo e pelas suas veias... ah, gosto de excelência.
Seja, crie, pense, faça.
Gritos de um ditador para o servo; ambos são apenas um. O ditador do servo é o mesmo servo do ditador. Pensar não é o suficiente, você tem que criar; criar não é o suficiente, você tem que ser bom; ser bom não é o suficiente, você tem que amar; amar não é o suficiente, você tem que ser bom... único... bom... excelente... NEGUE, AFIRME, NEGUE, LUTE, SANGRE, FAÇA SANGRAR, SEJA!
Como te permites sonhar se não podes serdes bom? Como podes se dedicar se não podes serdes bom? Como viverás sem serdes bom... único... bom... excelente, para o homem no espelho? Este homem, o homem no espelho, que me acusa, dia após dia, meu juiz e júri.

Há um portal em forma de delta com espinhos em seu contorno, aqui, bloqueando minha memória, meu acesso à algo; não é a primeira vez que me deparo com ele.
Responda! Entre! Risadas, soluços, e os dentes vibram batendo uns nos outros, numa globalização de angústias fundamentais oriundas de todas as heranças... o saber negado.
Segredos de um universo que decidimos intitular “realidade”; pseudo realidade. Uma parte material regida por uma parte imaterial, ao mesmo tempo dependente da parte material, nessa bioquímica cerebral cujo foco principal é a consciência. Ambas interdependentes de ambas. Algo por trás deste palco de neurotransmissores e hormônios, que interpreta o que é oriundo do plano externo ao mental, para dentro de si numa resposta física, química e biológica, que é expelida de volta ao plano externo ao mental. Imaterial apenas neste plano, material em outro, ao qual não temos acesso direto... apenas imaterial neste plano de realidade, o que escolhemos intitular realidade... como podemos ter tanta certeza de que esta é a realidade? Ou, interpretando permitindo-se ser limitado ao plano material que pertencemos, que esta é a única realidade?
Do outro lado... cujo mentes tentaram incessantemente interpretar, tanto analisando de forma externa, olhando ao redor, ao Macro, como analisando de maneira interna, olhando para o Eu, ao Micro... do Micro ao Macro. Tentativas que burlam o senso comum do que é e o que não é, baseado no conceito chave de que nada é o que é, e sim o que interpretamos, tudo é plausível de questionamento e revisão.
Quem conseguiu ouvir o inaudito, observar o invisível, transcender os limites impostos pela nossa realidade?
Arrisco alguns, todos com conflitos constantes, angústias penetrantes, vidas dignas, porém sofridas, que talvez só fizeram sentido naquele momento único que estamos, todos juntos, dignos e indignos, fadados: O Fim.
Seria justo talvez os mais dignos obterem este acesso à supra realidade ainda neste plano, ou seria insustentável pela lógica? Acessar uma realidade pertencendo à outra não parece fisicamente, mesmo “misticamente” se isso existisse, plausível. Então o mais provável, não necessariamente lógico nesta realidade, é que apenas ao deixar de pertencer à uma, nos tornamos capazes de acessar outra; no momento em que esta pequena parcela de imaterial que temos dentro de nosso (sub)consciente tornar-se material, real, finalmente.
Talvez o mais justo, e o que é mais provável de ser em ambas realidades, seja todos limitarem-se à esta realidade enquanto o organismo puder, e apenas em um outro plano imaterial à este, e material por ele mesmo, as diferenças do ser sejam edificadas.
Nada é o que é, e sim o que interpretamos. Existe o mundo aparente e o mundo real, e a este último não temos acesso.
Tenho certeza da dignidade dos questionamentos citados acima, mas ainda é interpretação. Sei da dignidade dos meus feitos, já realizados e principalmente vindouros, e também da limitação desta realidade; mas a limitação ainda é real e continuará sendo até o fim... glorioso fim, no qual transcenderei.
  
E eis que seu Eu decretou:
“Você é demais para si próprio.” 

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