Tuesday, October 2, 2012

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Reflexos. Um céu. Negro e Profundo. Refletem-se neste céu... em sua infinita escuridão. O reflexo em si.

Sonhando talvez. Não. As memórias são fortes demais para um sonho ter sido. Você levanta e abre a porta do quarto; no escuro enxerga-se uma ponte, e um homem à sua borda esquerda, como que o estivesse chamando-o, convidando-o. Acende-se a luz, apenas móveis. A TV desligada faz-lhe lembrar daquele céu, negro e profundo. Senta-se no sofá, você abaixa a cabeça para pensar. Eis que ouve-se um choro feminino, tão forte, tão intenso, que você diria que foi real se não fosse sua sanidade e certeza de que aquilo foi um pensamento. Como que despertado, espantado você olha ao redor, nada, você olha para a porta, trancada, você olha para o teto... não há teto.

Aquele céu, negro e profundo, que insistia em sua mente.
Mas... não há temor. Inesperadamente, não há temor, como se já estivesse ali outrora... aquilo, o reflexo da escuridão infinita, soa até familiar, intimamente familiar. Deita-se no chão para ter uma visão mais ampla daquela imensidão negra e profunda. Aquele céu, que é tão familiar em sua profundidade. Tudo tão infinito naquela escuridão, que aparentava-se nada haver ao seu redor; fechar e abrir os olhos não fazia mais diferença, tamanha a escuridão uniforme. Apenas a sua aparente consciência pode dizer-lhe se seus olhos realmente abertos estão.

Você olha para o lado, uma mulher ali deitada está, a olhar para a tal escuridão, ela sorri. Naquele exato instante você ouve aquele choro feminino num curto soluço... o choro era dela. Você sabe quem é ela.
Então, você a abraça, fecha os olhos e sorri... você sabe que não há lugar mais confortável do que em seu abraço. Ao abrir os olhos, ela está lhe encarando sorridente. Você pisca, e ela não estão mais ali... Desespero. Agonia, uma dor interna que contrai tudo em você... levanta-se com um ódio desesperado, põem-se as mãos na face e percebe-se que já está desabando em lágrimas. Sem secar as lágrimas, você estende  amão para trás, como se pegasse algo, ou alguém, e segue em direção à porta; ao hesitar quando toca a maçaneta, a TV liga espontaneamente, e dela soa a faixa 15, com aquele solar dedilhado de um violão... e uma aura calmante e extasiante toma conta de seu corpo, e um sorriso tão belo, tão límpido, como se tivesse sido pintado ou esculpido surge em sua face. Você olha a mão que havia pego algo ou alguém, há um anel, dourado e simples; você fecha sua mão com firmeza, e abre a porta à sua frente.

A ponte e aquele homem à sua borda surgem, e mais nada há ao redor, toda aquela escuridão do céu agora toma conta de tudo. O homem ainda tem a mesma atitude, que mesmo apenas enxergando a sua silhueta fica claro; ele estende sua mão e depois a vira mostrando a direção à travessia. O convite é aceito.
Toda aquela escuridão converte-se numa luz ofuscante, porém não de forma caótica... de forma harmoniosa sim, como uma dança, a escuridão profunda torna-se uma luz intensa, que diminui gradativamente de intensidade... enxerga-se um portão e cercas baixas e brancas, uma casa e gramado. Ao olhar para trás ao céu, vê-se o homem de costas voltando para o outro lado da ponte, naquela imensidão; e o último acorde da faixa 15 lhe surge à mente, e você faz um leve gesto com a cabeça em compreensão.

Aquele seu sorriso como se fosse esculpido e pintado, tão lindo, perfeito... ele encontra seu reflexo, ao olhar novamente para a casa, em frente à mesma, à lhe encarar.

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